quarta-feira, 16 de maio de 2012

Match pelo título mundial: morte do xadrez de elite pelos empates?

Todo o enxadrista que se prese sabe que está sendo realizado o match pela coroa do mundial do xadrez entre o Indiano Anand e o Israelense Gelfand. O evento que teve início dia 10 de maio terá seu término no mais tardar dia 31 desse mesmo mês. As partidas estão sendo transmitidas ao vivo no SITE OFICIAL do evento a partir das 8h da manhã. 


Sabemos o quão surpreendente foi a conquista do desafiante no torneio de candidatos ano passado e vale a pena relembrar a vitória que concedeu a ele o direito de desafiar o atual campeão mundial. 


Na minha opinião, para o bem da história do xadrez, Anand não pode perder seu título de campeão mundial. Afinal, qual vai ser o passo a frente que o próximo rei do xadrez vai dar no curso do xadrez moderno? Se Gelfand vence será mais um a figurar nas exceções da tese defendida por Garry Kasparov na sua saga Meus Grande Predecessores, similar à derrota de Alekhine para Euwe em 1935.  Todos estão esperando algo novo, excitante e motivador acontecer e, como muitos, acredito que o atual campeão mundial deveria ser destronado pelos arautos da nova era Magnus Carlsen ou Levon Aronian. Digo isso, não apenas com o apoio do senso comum, mas também embasado na opinião expressada pelo facebook de um dos mais renomados comentaristas de xadrez: o espanhol Leontxo Garcia:

"4ª partida del Mundial Anand-Guélfand. Tablas. Soporífero aburrimiento de purísima calidad. Si el ajedrez de élite no cambia, morirá."

Se o xadrez de elite não mudar, morrerá. A história é uma espiral - anda de forma linear, mas dando voltas. Parece que a velha ladainha de Capablanca volta a tona e com força. Não é de hoje que ouvimos essa reclamação sobre a quantidade de empates na alta-elite do xadrez - às vezes empates ridículos em 12 lances que irritam de sobremaneira os espectadores. No entanto, Capablanca teve como oposição o tão bem vindo Alekhine que explorou e demonstrou de maneira fantástica que o dinamismo do xadrez estava ali para provar que a morte do xadrez por empate estava longe de ser uma verdade.

Agora, depois de 66 anos da morte de Alekhine, as suas idéias com a indispensável ajuda de Tal, Bobby Fischer e Kasparov (dentre outros) já estão há tempos muito bem assimiladas pelos melhores jogadores do mundo e é incrível como partidas puramente dinâmicas, com desbalanço material e ataques em ambas as alas pode terminar em empate e não satisfazer o público - como se esse empate já estive dentro do previsível pela teoria de abertura. Podemos ter um exemplo na terceira partida do match.


Então, chegamos à conclusão que já não é mais suficiente as idéias dinâmicas de Alekhine, Tal e Kasparov para colocar problemas para o adversário e vencer. Não adianta assumir riscos se o adversário souber parar os ímpetos agressivos como muito bem fizeram os dois jogadores na partida acima. É necessário mais. Mas o quê? E quem será que pode dar esse a mais atualmente na elite do xadrez mundial? O nome de Magnus Carlsen aparece facilmente em nossas mentes. Mas que características no jogo dele nos faz tê-lo como nosso preferido? Arrisco-me a dizer que Carlsen vem como a síntese de Fischer e Kasparov (e que síntese poderosa!). A confiança que Carlsen demostra faz parecer que ele entende as nuanças da batalha psicológica que era especialidade de Fischer. Carlsen expreme tudo que é possível das partidas, jogando posições teoricamente empatadas até o último lance, sempre colocando problemas para seu adversário que muitas vezes acaba sucumbindo ante a pressão. Aliando essas características à genialidade e ao estilo de Kasparov, nós temos alguma coisa semelhante a isso:



Gelfand está longe de ser uma presa fácil para Anand como muito pressuporam e como eu já havia imaginado. Afinal, Gelfand está jogando o match que, se vencido, irá coroar décadas de um trabalho duro. Mas mesmo assim, apesar da minha tendência de torcer para os azarões (pois eu mesmo sempre fui um e dos bons) a minha torcida está com Anand porque acredito que historicamente será melhor para o xadrez. No entanto, o match ainda não está no fim e quem sabe que surpresas podem estar nos guardando esses dois titãs do xadrez nas próximas partidas.

--

Vou postar nesse espaço todas as partidas no decorrer do match - a terceira já foi citada acima:

Partida 1


Partida 2


Partida 4

terça-feira, 15 de maio de 2012

IV Aberto DC Shopping - 4º Lugar



E lá se foi mais uma belíssima edição do Aberto DC Shopping. Claro que é gritante a falta de torneios pensados no Rio Grande do Sul, mas isso parece estar sendo uma tendência no Brasil inteiro. Torneios rápidos  são mais fáceis de organizar, não demanda demasiada preocupação com logística e, por ser realizado em um só dia, parece inclusive que chama mais atenção dos enxadristas. No entanto, na recente história do xadrez gaúcho, já tivemos casos muito bem sucedidos de torneios pensados, com a presença em massa dos enxadristas. É o caso do Circuito Metropolitano de Xadrez Clássico em 2008 em que, para o entusiasmo de todos, o PGN de todas as partidas era publicado. Esse material todo encontra-se no site Xadrez Gaúcho.

Voltando para o presente, tivemos como campeão do torneio em questão com 6,5 pontos dos 7 possíveis o enxadrista Bi-campeão gaúcho Eduardo Munoa. Mais uma vez ele demonstrou seu fortíssimo jogo e sua sorte de campeão que o faz ser um dos melhores jogadores nascidos em solo gaúcho. Em sua partida contra o jogador de Pelotas Anderson Donay, Munoa escapou de uma derrota que parecia 99% garantida.  Donay superou seu adversário num final de torres de forma brilhante e soube controlar bem o seu tempo. A posição, apesar do peão a mais para Anderson, estava teoricamente empatada, mas Munoa com com apenas 15s, tinha que provar o por que da teoria. Foi então que ele parou o relógio e chamou o árbitro Marcelo Konrath, exigindo o empate - Marcelo mandou o jogo seguir e no lance seguinte Anderson Donay pendurou sua torre e Munoa conseguiu converter a posição em menos de 13s. 

Em compensação em sua partida contra o Felipe Menna Barreto, ele puniu os erros de seu adversário com um ataque de mate ainda no meio jogo. Munoa me mandou a partida com alguns de seus comentários e logo abaixo deles é possível reproduzir a partida.

Eduardo Munoa x Felipe Menna Barreto

font-size: 14px; line-height: 18px;">1. d4 Cf6 2. c4 e6 3. Cc3 d5 4. Cf3 Be7 5. Bf4 O-O 6. e3 Cbd7 (teórico é 6...c5) 7. Dc2 c6 (achei passivo essa combinação de Cbd7 com c6) 8.O-O-O! b6 9. h4! (a chave de minhas idéias) Bb7 10. e4 dxe4 11. Cxe4 Cxe4 12. Dxe4 Cf6 13. Dc2 Dc8 14.Cg5

"Era necessário 14. ... Td8." Munoa

14. ... c5?? (lance perdedor era necessário 14...Td8) 15. d5 exd5 16. cxd5 Dg4? 17. g3! Tfd8 18. f3! (a dama está quase sem casa) Dd7 19. d6 h6 20. Bc4! hxg5 21. hxg5!Bxf3 22. gxf6 Bxh1 23. Txh1 e as pretas abandonam não há como defender o mate  font-size: 14px; line-height: 18px; text-align: -webkit-auto;">1-0


--

Em segundo lugar ficou o MF Luiz Ney Menna Barreto com 6 pontos e em terceiro Felipe Menna Barreto com 5,5, seguido por mim também com 5,5. Claro que entre professor e aluno não teve muito luta (Luiz Ney x Munoa), nem muito menos entre pai e filho (Luiz Ney x Felipe), mas pelo menos na partida acima citada tivemos muitos motivos de nos orgulhar da luta realizada.

Eu fiz um torneio perfeito para o pessoal de cima. Com meus dois empates nas primeiras rodadas e outro no meio do torneio não peguei nenhum dos 3 melhores jogadores e com um torneio bastante ameno terminei em 4º lugar com 5,5 pela 4º vez consecutiva nos torneios do DC Shopping.  Uma das minha melhores partidas foi jogada contra o jogador de Campo Bom Iuri Pasini pela última rodada:


Quem surpreendeu a todos foi o jogador de Alvorada Elisandro Pimenta que, ao receber seu prêmio de 5º lugar, deixou bem claro que esse havia sido o melhor torneio de sua vida.  Vejamos a maneira que ele conseguiu articular seu ataque contra Serra Azul numa das mais importantes rodadas do torneio para ele. 



Parabéns aos organizadores e a todos os jogadores que participaram desse torneio. 
Nos vemos em breve novamente.

Porto Alegre, Maio de 2012

Mais informações sobre o torneio e demais fotos:


terça-feira, 1 de maio de 2012

Lista FIDE de 1º de Maio - Top 10 gaúcho e outras coisas mais

1. MF Fabiano Fortes Prates                           2283
2. Ivan Boere de Souza                                    2283
3. MF Flávio Olivência                                      2211
4. Eduardo Munoa da Silva                              2206
5. Rodrigo Borges da Silva                               2205
6. Carlos Rodrigo Born                                     2199
7. Artur Bartmann Arns                                     2190
8. André Henrique Lemos de Freitas                2184
9. Paulo Sérgio de Castro Oliveira                   2182
10. Antônio Rogério Crespo                             2119 

Não sei se a lista acima é a mais justa, pois pelo menos 3 jogadores nela estão parados e há tempos não jogam um torneio FIDE. O importante enxadrista gaúcho MF Fabiano Prates não joga há 3 anos e ninguém sabe responder por onde anda. Já vieram me perguntar, durante os torneios, pelo menos três vezes se eu sabia alguma coisa de seu paradeiro - eu infelizmente não faço a mínima ideia. Só sei que, aparentemente, depois da confusão no campeonato gaúcho de 2008 com Allan Gattass, ele nunca mais voltou a jogar xadrez em torneios gaúchos.

Assim como Fabiano, Artur Arns, conhecido por muitos como Vampiro, também anda sumido. Arns ficou conhecido por ser um jogador muito criativo, com um jogo posicional agressivo por essência e espantava seus adversários com sua frieza. Uma pena que esteja há pelo menos 4 anos afastado. Mas seus amigos ainda torcem pelo seu retorno.  

 Artur a Direita, jogando em Villa Martelli 2008 contra o MF Bolívar Gonzales
Artur venceu essa partida.

O último torneio com a presença dele que joguei foi o Torneio Temático realizado na Casa de Cultura Mário Quintana organizado pelo AN Lucas Ramos. O vídeo abaixo mostra a partida decisiva final entre ele e o Vitor Hugo. O vídeo não está com a qualidade muito boa, mas vale pelo registro histórico.


Além desses dois, há o jogador  que se encontra em 8º. André Freitas tirou seu rating FIDE no ano 2000 e de lá para cá não jogou mais nenhum torneio FIDE. Nunca tinha ouvido falar dele, mas pelo que pesquisei ele é bi-campeão Estadual Absoluto 1995-1996. É uma pena que a história do nosso xadrez se perca assim de forma tão rápida e fácil - não temos nenhuma partida desse jogador disponível para visualização, tornando a noção de tradição completamente nula: um misto de irresponsabilidade e incompetência destruidor. 

Muitos outros jogadores gaúchos poderiam figurar nessa lista, mas por um motivo ou outro estão jogando por outros estados, na ânsia de buscar melhores condições de desenvolver seu xadrez. Allan Gattass (2256) está jogando por São Paulo; Felipe Menna Barreto (2247) e Eu (2133) estamos jogando por SC; Além do MF Luiz Ney Menna Barreto (2310) e o MI Francisco Trois que também estão por SC, assim como Janine Flores e Amanda Fontella. Podemos também citar, abrangendo um pouquinho mais, os Grandes Mestres Mequinho e Vescovi que jogam a muitos anos por São Paulo, mas que também têm raízes gaúchas. Há com certeza outros jogadores que agora me fogem a memória e que poderiam ser citados.

A lista citada continua com:

11. Vitor Hugo de Oliveira             2110
12. Darlan Veit                              2107
13. Luiz Ernesto Serra Azul           2089
14. André Augusto Gazola            2088
15. Lucas Strauss Boff                  2019

Normalmente os jogadores gaúchos para conseguirem a obtenção de seu rating FIDE tem que fazer longas viagens - para Curitiba, São Paulo e até Argentina. Isso porque há grande escassez, apesar dos esforços, de torneio que valham FIDE no Rio Grande do Sul. Eu devo ser, se não o primeiro, pelo menos um dos primeiros jogadores gaúchos que conseguiram a façanha de obter seu rating FIDE sem precisar sair do Estado. Joguei o Regional Sul em Dois Irmãos em 2008 e o Regional em Porto Alegre em 2009.

Por essa razão a fórmula do Circuito Oncosinos do Metrópole Xadrez Clube chama atenção. Classificando os 20 jogadores sem rating (que em sua maioria serão gaúchos) para a final, praticamente sacramente que esses 20 quase em sua totalidade farão pelo menos um bloco para obtenção do rating FIDE, o que configura um grande estímulo para esses jogadores e para todo o Xadrez do Rio Grande do Sul.